"O que Lénin e Trotsky não atingiram com o fim de conduzir as forças que dormitam no bolchevismo para a vitória final, será obtido através da política mundial da Europa e América." - Rosenberg 1930

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

identidade portuguesa

o historiador José Mattoso sobre a questão de saber se existiria hoje um país independente sem D. Afonso Henriques:

"Essa é uma daquelas perguntas que qualquer historiador recusa responder com 'sim' ou 'não'. Acho que Portugal deve muito ao voluntarismo da personagem, que teve a sorte (ou a desgraça...) de contar com um adjuvante não menos voluntarioso e com qualidades complementares, que foi D. João Peculiar, arcebispo de Braga , como creio ter demonstrado na minha biografica de D. Afonso.»
 Mas haveria uma identidade portuguesa anterior à fundação do Estado? Responde-nos o historiador:
«não acredito numa espécie de identidade portuguesa que viria a crescer desde o fundo dos séculos num processo que seria como uma espécie de necessidade histórica. Em história não há explicações teleológicas.  Creio que a 'nacionalidade' tem um fundamento politico, isto é,  é o Estado que precede a pátria e não o contrário.  As formações nacionais resultam da conjugação progressiva de factores que vão criando situações favoráveis a esse processo até o tornar irreversivel. Creio ser exactamente isso que aconteceu em Portugal.  Mas em 1139, 1143, ou em 1185, e , depois, em 1383, ainda se estava muito longe dessa irreversibilidade,  Em várias conjunturas o destino poderia ter sido outro. Em Portugal essas encruzilhadas foram frequentes.»


Portugal era uma 'fatalidade'?
Outro problema, de que raramente ou nunca se fala, é o de apurar se os interesses separatistas do condado de Portugal relativamente ao Reino de Leão eram exclusivamente das classes nobres ou, pelo contrário, extensivos às camadas populares.  Mattoso não crê que na Idade Média, e sobretudo no século XII, se possa falar de interesses separatistas das camadas populares.  E explica: "O regime senhorial (ou feudal) torna impensável a atribuição de um papel histórico de carácter nacional às camadas populares. Quanto aos interesses separatistas das classes nobres, também não os filiaria numa espécie de patriotismo avant la lettre".  Penso muito concretamente numa coligação de nobres aparentados entre si como reacção contra o protagonismo do conde de Trava junto de D. Teresa."
(....)
"Uma coisa é inegável: D. Afonso Henriques foi efectivamente o fundador de Portugal enquanto Estado. Curiosamente, foi também, de todos os governantes deste Estado - e em parte graças à sua extraordinária longevidade para a época (76 anos) -, aquele que exerceu as funções durante mais tempo: 57 anos, 45 dos quais com o titulo de rei. Nenhum monarca, presidente ou chefe o bateria."
  Mas esse estado não correspondia de modo nenhum a um território dotado dos genes de independência. Nada distinguia os barões portucalenses dos galegos, os camponeses do Lima dos do Verdugo ou os burgueses de Braga dos de Santiago de Compostela.  Em contrapartida, a nova entidade politica cresceu à custa de uma realidade que lhe era então alheia:  os territórios de cultura àrabe.
  Por acasos e vicissitudes de vária ordem, mas sobretudo por oposição politica ao poderoso vizinho Leonês, depois Castelhano e finalmente Espanhol, o pequeno Estado fundado por D. Afonso Henriques manteve-se coeso e dentro de fronteiras muito rigidas ao longo de quase 900 anos.  Se há «milagres» nesta história, este é inegavelmente um deles."


Fonte: Visão (13 a 19 de Agosto de 2009)                               

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